IESol desenvolve Tecnologia Social sobre Rede de Comercialização Solidária em um empreendimento rural em Castro, Paraná

30/09/2016 10:46

    No dia 14 de setembro de 2016, a Incubadora de Empreendimentos Solidários (IESol) da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) desenvolveu uma tecnologia social relacionada com a questão de Redes de Comercialização com 9 moradores da comunidade rural que integram a Associação de Trabalhadores Rurais de Três Lagoas, no município de Castro.

    Um dos aspectos do trabalho da IESol com a Associação é estruturar uma Rede de Comercialização Solidária, articulando uma relação entre consumidores-produtores permeando as seguintes questões: cestas de produtos agroecológicos, soberania alimentar e nutricional, preço justo, percepção rural-ambiental e desenvolvimento local. A entrega das cestas se dará em períodos preestabelecidos definidos pelos consumidores em conjunto com os produtores, de forma que os produtores passam a contar com uma maior estabilidade da comercialização e valorização da produção local.

    A atividade foi desenvolvida na forma de um jogo, denominado DRECOSOL (Diário de uma Rede de Comercialização Solidária). Seu objetivo está pautado tanto no diálogo sobre situações que podem acontecer dentro de uma rede de comercialização solidária, com dinâmicas lúdicas (o teatro) para demonstrar as situações, como na estruturação e construção de uma rede de comercialização solidária.

    Os temas abordados no jogo são: logística de entrega das cestas, pagamento das cestas, cooperação na plantação e colheita dos alimentos, qualidade dos produtos, sazonalidade dos alimentos, entrada de produtos da estação nas cestas, pontos de comercialização, e entrada de novos membros na rede.

    Para realizar a dinâmica do jogo, os trabalhadores foram divididos em equipes, cada uma com três pessoas. O formato do jogo é um tabuleiro com 30 casas, das quais 12 contém situações que podem ocorrer em uma rede de comercialização. Ao rolar o dado, as equipes avançam no tabuleiro e ao cair em uma das casas-situações, tiram uma carta onde está descrita a situação. A carta era lida em voz alta pela equipe e conduzia a encenação, procurando resolver a situação. Em seguida, a equipe tem um tempo para elaborar sua resposta e expor suas considerações para todas as outras equipes, abrindo o diálogo com as outras equipes em cima da resposta formulada.

    “O intuito do diálogo é ouvirmos as vozes que compõem a associação, privilegiando a cooperação e a solidariedade dentro da rede de comercialização”, explica Everton Miranda, Técnico em Economia Solidária e mestrando em Geografia (UEPG). Com o decorrer do jogo todas as situações foram lidas, e o jogo não estabelece um ganhador, mas sim a articulação entre os membros da rede buscando a cooperação, autogestão e a solidariedade.

    Logo após a execução do jogo DRECOSOL os jogadores responderam um questionário avaliativo estruturado para refletir sobre a potencialidade do jogo, além de buscar sugestões de melhorias.

    O estagiário da IESol e acadêmico de Farmácia (UEPG), Lucas Eduardo Federacz Brojan, comenta que ficou satisfeito com o resultado da experiência, e diz: “O jogo contemplou seu objetivo. Levantamos situações cotidianas do campo que o grupo possa enfrentar ou já enfrentou”.

    Everton Miranda avalia: “O jogo ajudou o grupo a pensar na estruturação da rede, em que, muitas das ideias e propostas comentadas na dinâmica do jogo ingressará o estatuto da rede de comercialização solidária. Tivemos respostas na dinâmica que podem gerar desestruturação da rede principalmente na parte de pagamento das cestas e na parte de perda de produção, e tivemos que contornar e explicar que cada pessoa é um nó da rede, e a cooperação é importante para o fortalecimento e funcionamento da rede de comercialização”. Comenta, ainda, que: “O ponto alto da aplicação do jogo foram nas partes de novos pontos de venda, entrada de novos produtos na cesta, e na entrada de novos membros na rede.

    A dinâmica foi elaborada como parte do trabalho de incubação da Associação 3 Lagoas, que vem sendo desenvolvido desde 2014 e inclui a formação dos trabalhadores nos princípios que regem a economia solidária.

    A Economia Solidária tem por meta o estabelecimento de um modelo econômico alternativo ao modelo vigente atualmente, concentrando seus esforços na valorização do ser humano por meio da geração de trabalho e renda que garanta a todos os envolvidos condições justas de trabalho e propiciem o bem-estar das pessoas tanto nas atividades que realizam como na relação com o grupo e o contexto local em que estão inseridas.

    A IESol (Incubadora de Empreendimentos de Economia Solidária) é um programa de extensão da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) que atua desde 2005 como entidade de apoio a esses empreendimentos, por meio da incubação ou assessoria, orientando os parceiros a desenvolverem trabalhos que sejam econômica, social e ambientalmente sustentáveis. Atualmente as atividades são patrocinadas pela Petrobras, através do projeto “Fortalecimento da Economia Solidária nos Campos Gerais”, que apoia nove empreendimentos nas regiões de Ponta Grossa, Castro, Irati e Porto Amazonas.

    A Associação de Trabalhadores Rurais de Três Lagoas é um dos empreendimentos de economia solidária incubados pela IESol e está situada próximo ao distrito de Abapã, no município de Castro, no Paraná, às margens da Rodovia PR-090, conhecida com Estrada do Cerne. É formada atualmente por doze famílias e foi fundada em 1995 através do assentamento das famílias pelo INCRA em terras cuja ocupação remonta do final da década de 1980. O grupo produz legumes e verduras na modalidade de agricultura orgânica, além de produtos panificados.

    por Patricia Pilatti e Everton Miranda